lombrah

 
registro: 14/02/2009
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O que é real na real?

O que é real na real?

irei expor algumas citações de alguns autores que eu achei interessante, alunos academicos e para aqueles que tem um certo problema com as epistemologias, postulados, contrustos, hipoteses, morfologia, enbriologia, tese, antiteses, sinteses, dialetica... creio que essas citações ira lhe dar uma visão mais ampla ou fazer voce repensar no seus conceitos! 

A ciência pode ser concebida como a atividade humana que tem como mister a descrição fidedigna do real. Este horizonte abre uma série de perspectivas para indagação, tais como a natureza deste real, a precisão da linguagem utilizada para representá-lo e, por consequência, o alcance de sua cognoscibilidade. Várias têm sido as (precárias) soluções propostas, produzindo um intenso debate conceitual, especialmente no século XX. No coração destas controvérsias se inscreve o pensamento original do filósofo Paul K. Feyerabend, defensor de um anarquismo epistemológico como melhor alternativa para a práxis científica. Discutir as formulações feyerabendianas acerca das relações entre o discurso científico e a realidade, demarcando suas implicações no âmbito da educação em ciência, são os objetivos do presente trabalho.

Ainda que o debate epistemológico no século XX tenha sido extremamente fecundo, trazendo, entre outros problemas, indagações sobre a natureza da ciência, é indiscutível que a questão do conhecimento [científico] é muito mais antiga, remontando, na cultura ocidental, aos gregos. Em verdade, poder-se-ia retornar às origens do pensamento filosófico mapeando a transformação ocorrida no bojo das relações entre a palavra e o real ou entre (logos) e (physis), na medida em que aquela é pretendida como veículo da verdade para este último. Parece ser mais propriamente nesta efervescência espiritual helênica que é tomada a decisão conjunturalmente imposta, no âmbito da (polis)? (VERNANT, 1973) pela separação definitiva entre logos e physis, podendo se recontar a história do pensamento no Ocidente como uma tentativa de tornar o primeiro decisiva e fidedignamente relacionado à segunda. Obviamente, não se trata de refazer este percurso, obra que ocuparia muito mais de uma vida, mas tão somente colocar o problema como ele foi originariamente formulado. A partir de então, na tradição clássica, o trabalho da ciência passou a ser concebido, pictoricamente, como confronto de uma dada teoria com o maior número possível de fatos reais, de tal modo que estes últimos possam corroborar (ou refutar) a formulação teórica como veraz (OLIVA, 1990). Para isto, construiu-se um método indutivo, o qual ganhou um formato mais definitivo a partir das ideias de Francis Bacon (BACON, 1955). Assim, pois, vários matizes podem ser contemplados, como os binômios idealismo/realismo, objetivismo/relativismo e racionalismo/empirismo. Nestas duas últimas tensões, sobretudo, se inscreve boa parte do agonismo epistemológico manifesto nos últimos 100 anos.

A realidade última [poder-sei-a ler aqui, perfeitamente, real], se é que se pode postular tal entidade, é inefável. O que conhecemos são as diversas formas de realidade manifesta, quer dizer, as formas complexas em que a realidade última atua no domínio (o nicho ontológico ) da vida humana. Muitos cientistas identificaram a realidade manifesta particular que desenvolveram com a realidade última. Este é simplesmente um equívoco (FEYERABEND, 2001, p. 253, grifo do original).

Por todo o exposto, torna-se compreensível o fato de Feyerabend não abortar completamente a noção de real, por ele chamado de realidade última, em sua epistemologia. Todavia, um real irrevogavelmente apartado do homem e qualificável como limite definitivo para a validação da ciência, já não pode mais ser concebido. Ao contrário, há diferentes estratos da realidade, construídos pelas teorias científicas, impossibilitando-se, mesmo, a factibilidade de se atingir um Ser último das coisas, no que o filósofo se aproxima do conceito kantiano de númeno. A aderência de Feyerabend a esta espécie de realismo movediço traz marcantes implicações na concepção de verdade enquanto prerrogativa (ou busca) da ciência.

[...] não podemos descobrir o mundo a partir de dentro. Há necessidade de um padrão externo de crítica: precisamos de um conjunto de pressupostos alternativos ou uma vez que esses pressupostos serão muitos gerais, fazendo surgir, por assim dizer, todo um mundo alternativo necessitamos de um mundo imaginário para descobrir os traços do mundo real que supomos habitar (e que, talvez, em realidade não passe de outro mundo imaginário) (FEYERABEND, 1977, p. 42-43, o grifo é do original).

[a] ciência é um continente de muitas opiniões, procedimentos, fatos, princípios . Não é uma unidade coerente. Diversas disciplinas (a antropologia, a psicologia, a biologia, a hidrodinâmica, a cosmologia, etc.) e escolas dentro de uma mesma disciplina (tendências empíricas e teóricas na astrofísica, a cosmologia e a hidrodinâmica; a fenomenologia e a grande teoria na física de partículas elementares; a morfologia, a embriologia, a biologia molecular, etc., na biologia, e assim sucessivamente) empregam procedimentos que diferem muito entre si, tem diferentes visões de mundo, debatem sobre elas e tem resultados: a natureza parece responder positivamente a muitos enfoques, não a um só (FEYERABEND, 2001, p. 250, grifo do original).

O grande argumento de que a ciência é um caminhar direcionado à verdade trazendo imponderáveis benefícios à civilização é aqui claramente esvaziado pelo epistemólogo. Não apenas as diferentes formas de ver o mundo são capazes de contemplar às questões humanas mais recônditas, imprimindo um sentido à existência, respondendo aos mais díspares anseios psíquicos, tratando enfermos com a utilização das mais diferentes práticas, confortando corações e almas, como no caso das narrativas míticas nas sociedades arcaicas (SIQUEIRA-BATISTA, 2003a), tendo sido assim ao longo dos séculos, como também a tecnociência não é um bem em si mesmo, na medida em que parece amplificar a qualidade da vida humana, mas, outrossim, é também origem de tamanhos problemas, estando o mundo contemporâneo apinhado deles ( buracos na camada de ozônio, redução dos recursos hídricos como consequência da poluição, entre outros). É claro que se morre menos pelas doenças infecciosas, mas se sucumbe mais pelas enfermidades cardiovasculares e pelos acidentes de automóvel; o avião encurtou enormemente as distâncias, mas é igualmente uma poderosa máquina de guerra; as unidades de terapia intensiva salvam vidas antes condenadas à morte, mas também são as modernas catedrais do sofrimento humano, arrastando pessoas para um fim tantas vezes marcado pelo miserável sofrimento (PESSINI, 1996; SIQUEIRA-BATISTA; SCHRAMM, 2004).