Dizem que o palhaço é triste
O palhaço hoje acordou triste. A máscara por traz do nariz vermelho foi ao chão, a lágrima desfez a maquiagem, a poesia ficou sem rima. Sobrou tanta falta...a falta do abraço, do sorriso, do xêro. Coração bateu forte demais, não resistiu.
O palhaço tentou fazer graça, tentou fazer melodia. Mas faltou açúcar no café, faltou mel no fim do dia. O gosto de fel amargou a poesia. O frio, a ausência, a lembrança estavam agora ocupando todo espaço que sobrara no rosto ressequido, úmido de água salgada, que rolara pelo queixo até o chão.
E lá de longe, lá de dentro, fez-se acordar a beleza adormecida. Não se negaram as dores, não se pintaram amores, não fez-se dormir o pranto. Não coloriu-se a realidade opaca, não riu-se da desgraça sem graça. Mas as lágrimas lavaram a alma e fizeram brilhar aquilo que o palhaço sabia de cor.
Que essa Vida é força frágil, é o desequilíbrio bem equilibrado, a incerteza obsessiva, a surpresa anunciada, o desespero esperado, a contradição bem viva. E para não perder-se em caminhos de ilusão, é preciso estar com coração na mão. Para não esquecermos que a Vida pulsa, é preciso adormecer para acordar a cor da infância adormecida. Voltar-se a encher os olhos de paz inebriante.
https://www.youtube.com/watch?v=VbDeiKcs_Os